Revirando recentemente as gavetas do quarto à procura de um documento, encontrei uma folha de papel que não estava amarela e nem roída pelas traças, mas estava escrita à mão – e isso significa que era de um tempo longínquo.
Parei para ler aqueles meus rabiscos em caneta azul. Era a primeira versão de um bilhete enviado via correio (!) para uma antiga paixão colegial, escrita no meu terceiro mês de faculdade. Não senti saudades dela ao encontrar o papel, mas tenho quase certeza de que meus olhos brilharam ao reler tudo aquilo, de relembrar bons, bons momentos da adolescência.
Reencontrei a tal destinatária umas duas, três vezes depois disso. Acho que não reescreveria algo tão simples hoje em dia - para falar a verdade, acho que nem escreveria para ela novamente. Mas segue abaixo na íntegra, com erros e tudo, só que sem a minha letra insegura enviados à minha garotinha ruiva (que, claro, não era ruiva):
"Garotinha ruiva,
As próximas palavras não vão tratar nada de mais. Acontece que me deu vontade de te deixar algumas palavrinhas mais bonitinhas. Estudar à noite dá insônia; insônia dá esses resultados.
E mesmo fazendo um tempo desgraçado que a gente não se vê, não se fala e nem se pensa, deu vontade de te escrever isso. Porque eu tenho saudades (por mais forçado que isso possa parecer). Porque eu tenho saudades das suas risadas, de te segurar uma estação a mais no metrô e até mesmo dos tchaus que você nunca me deu. Do cabelo mais loiro e mais... mais demais que tinha naquela droga de colégio. Ah, eu tenho saudades de você, sua chatona!
Tanto que até hoje eu sempre dou uma espiada para a sua rua no caminho de casa. Tanto que eu sempre acho que vou te encontrar no metrô quando eu saio do inglês, perto da sua casa. Enquanto isso, você fica sumindo assim, não dá as caras, não se comunica... só porque ficamos velhos o não quer dizer devamos ficar (tão) ranzinzas.
Se não quiser, nem precisa responder a carta. Só queria mesmo te falar isso.
Saudades de você. "
--
Claro, ela não respondeu.
2 comentários:
Ah, as cartas que a gente escreve e não entrega... Acredite, tem horas que é melhor não entregar. E eu sei do que estou falando...
tão doce...
que sensibilidade linda, Fê.
Deveria ter entregado! A cartinha é maneira linda de fazer com que as palavras cheguem mais perto do coração da guria... ;]
Mandou super bem!
beijo :*
Postar um comentário