Confesso que meu maior medo quando entrei na GE.Net era cair na obscuridade da editoria de outros esportes. Embora eu sempre tivesse gostado de acompanhar NBA, F1, os torneios de tênis e algumas coisas como natação durante as Olimpíadas, não me imaginava escrevendo notícias que não fossem sobre futebol.
Nas minhas primeiras semanas, ficava encarregado de fazer as notícias de futebol internacional. Sempre tinha alguma coisa legal, além de eu poder treinar inglês e aprender um pouco mais de espanhol. Era demais ter que fazer futebol, e ficava imaginando como deveria ser chato ser o Mané, cuja pauta continha tudo menos futebol.
Aos poucos, comecei a fazer algumas notícias sobre NBA e outras sobre a F1. Era legal. Semanas depois, comecei a cobrir os torneios de tênis. E passei a gostar para caramba. Meses depois, percebi que estava começando a fazer mais outros esportes do que futebol. E, por um momento, confesso que fiquei assustado.
Mas aos poucos fui percebendo que não era tão ruim ficar com a editoria de outros esportes. Se no começo eu achava que era a coisa mais chata que poderia existir, passei a ver que era a chance para se aprender sobre muita coisa. Além de fugir da pressão do final de semana, por exemplo, com as rodadas dos estaduais ou então dos campeonatos nacionais.
Mesmo assim, estava um pouco inseguro – algo que passou quando eu percebi que era possível fazer uma nota de duas páginas sobre modalidades antes obscuras, como levantamento de peso, esgrima, softbol e caratê. Notei que a falta de confiança sumiu quando falei com o presidente da Federação Brasileira de Esqui Aquático (esporte que eu sequer sabia da existência).
E era engraçado quando algum amigo me perguntava a minha função na redação. “Corinthians? Palmeiras? São Paulo? Ou você só faz times de Minas, Rio Grande do Sul? Espanhol, Italiano, Inglês??”. Respondia “Não, eu só faço outros esportes. Tudo, menos futebol”. E uma expressão de “Puxa, que chato. Tenho dó de você, cara. Mas ó, se precisar desabafar, posso te recomendar um psicólogo” surgia no rosto da pessoa acompanhado de um “Ah, legal”. Por mais que eu tentasse argumentar que um jogo de tênis entre Ana Ivanovic e Nicole Vaidisova ou então um de basquete entre Dallas Mavericks e Phoenix Suns, por exemplo, fossem mais emocionantes do que um Palmeiras x São Paulo, ninguém acreditava.
E foi então que os Jogos Pan-americanos do Rio de Janeiro chegaram. Foram 16 dias de um ritmo estonteante, com uma avalanche de qualquer modalidade que tivesse um brasileiro em ação. O que poderia ser o bastante para uma pessoa surtar passou a ser, pelo menos para mim, o melhor momento na redação. Foi quando acompanhei jogos de esgrima e regatas de remo e canoagem por telefone para não ficar na mesmice dos números finais de resultado.
No último dia do Pan, eu estava de folga. Enquanto meu irmão via o último jogo televisionado e falava “Ainda bem que acabou, agora você quase não vai ter o que fazer no trabalho e vai poder descansar”, eu imaginava o que aconteceria nos dias seguintes. Os outros esportes iriam cair no esquecimento e quase não haveria coisas para fazer. Talvez fosse entediante. Uma pena.
Duas semanas depois, percebi que voltaria para a editoria de futebol (e confesso que fiquei chateado por deixar os outros esportes). O primeiro dia até que foi divertido, apenas com futebol internacional (coisa que eu sempre gostei de acompanhar). Fácil, rápido e divertido. Mas no segundo dia, quando os noticiários de Juventude, América de Natal, Náutico e Sport precisavam da minha ajuda, senti saudade das regatas de remo, com o skiff duplo, e de canoagem, com o K4 1000m .
O futebol havia perdido a graça. Pelo menos o nacional, que passa por um momento terrível em que qualquer cabeça-de-bagre é titular de um time da primeira divisão, que joga com três zagueiros, dois laterais, quatro volantes, um meia (recuado, claro) e um goleiro. Não tinha mais graça. Era mais bacana cobrir judô, basquete nacional, handebol, natação...
Até que fui convocado para estrear nos estádios de futebol: segunda partida da primeira fase da Copa da Sul-americana, com São Paulo x Figueirense, no Morumbi, ontem à noite.
Por mais que os jogos não sejam nem sombra do que eram tempos atrás (sem querer ser saudosista: basta qualquer jogo de 1999, por exemplo) e o futebol nacional esteja em uma situação vexaminosa, não é tão ruim assim.
Atualizado: Depois de escrever tudo isso, saí pela rua tantando me lembrar da partida de futebol mais emocionante que eu já vi na vida. Nada de final de Campeonato Brasileiro, Libertadores, Mundial ou Copa do Mundo. Não, nenhum jogo de Copa do Mundo.
O mais emocionante que eu já vi aconteceu em uma sexta-feira, justamente em 1999. Depois de perder no Maracanã por 1 a 0 a partida de ida, o Palmeiras precisava vencer o Flamengo por 2 gols de diferença para se classificar para a semifinal da Copa do Brasil daquele ano.
Achei esse vídeo, que ilustra bem a partida. Tem alguns erros no texto, então talvez os tempos não estejam relogiosamente corretos. Além disso, eles não passam uma bola que o Flamengo meteu na trave aos 49 minutos do segundo tempo. Mesmo assim, vale conferir clicando aqui.
Mas, claro, também seria uma injustiça não citar este. Lembro que não consegui dormir depois dessa noite, de tão eufórico. Destaques do vídeo: a entrevista do torcedor corintiano logo no começo, o golaço do Alex, a consagração de Galeano (que virou um dos meus ídolos a partir de então) e a cara do apresentador do programa na última cena.
Um comentário:
Cara, você percebeu a oportunidade enorme de crescimento que outros esportes podem proporcionar! Sim, porque a cada dois anos nós temos Olimpíadas ou Pan (mesmo que não tão "badalado" quanto o do Rio), sem contar que sempre há algum brasileiro se destacando nessas modalidades.
Sem fazer um esforço grande, posso lembrar do basquete, que foi sucedido pelo tênis e agora o vôlei. Sem contar a Fórmula 1, que mesmo quando está chata, tem um cara fora de série como o Schumacher.
Se não houvessem nós, de outros, toda a cobertura destes esportes ficaria beeeem mais superficial. Uma coisa bacana de fazer outros é, de forma geral, ser muito bem recebido: um cara foda como o Giba ou o Ricardinho te trata com muito mais humildade que um cabeça de bagre qualquer do Palmeiras ou do Corinthians.
Mas é claro que eu não sou contra o futebol. E uma das minhas maiores frustrações na "carreira" é nunca ter feito um jogo no estádio.
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