Da quinta série ao terceiro colegial, estudei em um colégio que ficava a cinco estações do metrô de distância da minha casa. Como moro com meu pai e ele não tem carro e odeia dirigir, sempre fui freqüentador assíduo do coletivo subterrâneo.
Uma vez, quando eu estava na sexta série, houve um boato de que os metroviários entrariam em greve. No dia seguinte, batata: paralisação geral.
Acordei por volta das 9 horas daquele dia e perguntei ao meu pai por que ele não tinha me acordado para ir à escola. “Greve do metrô. Nem compensa sair de casa, a cidade tá um caos. Os ônibus também tão piores que lata de sardinha. Fica aqui que você ganha mais”, ele disse. Fiquei jogando videogame e vendo pela tevê a zona que São Paulo estava .
A partir desse fatídico dia, passei a apoiar a causa dos metroviários. Pegava todos os panfletos que a CUT entregava na porta das estações e torcia para que surgisse a possibilidade de greve. Até imaginava como seria possível plantar um boato que forçasse uma falta minha à escola. Nunca tive uma idéia bacana, então ficava na esperança de uma paralisação a qualquer momento.
Da última vez que o metrô fez greve, uns dois meses atrás, comecei a mudar o meu conceito a respeito dos metroviários. Depois de aterrorizarem a população com uma paralisação relâmpago de uma hora na semana anterior por causa da então desconhecida e hoje obscura Emenda 3, alguns dos responsáveis foram demitidos. Reivindicando a volta dos revoltosos, a corporação decidiu parar em uma quinta-feira durante algumas horas. No dia seguinte, ninguém mais se lembrava da tal emenda.
Resultado: levei 2h30 para fazer de ônibus (lotado como uma lata de sardinha, como disse meu pai) um percurso que eu normalmente levo 25 minutos em um dia normal de metrô. E o pior: um percurso que pode ser completado em 1h40 a pé. A pé!
Hoje, minha mãe me mandou uma mensagem no celular: “Greve do metrô amanhã. Saia mais cedo de casa. Bom trabalho. Te amo”.
Há dois anos, daria pulos de alegria por sucessivas greves do metrô. Hoje, no entanto, a coisa mudou um bocado.
E uma dúvida: será que não seria mais fácil fazer um pacote de reivindicações? Não é por nada não, mas acho que algumas das 2,5 milhões de pessoas que serão prejudicadas mais uma vez agradeceriam.
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Rapidinhas
Curtindo adoidado: Foram 14 dias de trabalho em um ritmo alucinante. No último deles, uma surpresa: misteriosamente, ganhei três dias seguidos de folga. Na hora, pensei em umas 15 cidades para onde eu pudesse me retirar durante 72 horas. Quase acabei visitando uma amiga que se mudou para Pedro Osório, cidade interiorana gaúcha que fica muito, muito perto da fronteira com o Uruguai. Obviamente, acabei ficando em casa. Nos três dias.
45 do segundo tempo: Para não dizer que não fiz nada, matei a saudade de jogar bola com os ‘velhos velhos’ amigos do condomínio. No último dia, que também era o derradeiro das férias de muitos deles, surge a idéia de tomar uma cervejinha depois do futebol, conversando sobre nada. Um deles disse que tinha uma garrafa de vodca já aberta e sugeriu que fosse terminada. Nunca gostei de vodca, mas acabei aceitando. O saldo final foi composto por muita conversa, disputas emocionantes de baralho e cinco moleques bêbados de madrugada.
Needles and Pins: Incrível como o mundo muda de acordo com a ressaca. De manhã, acordei com o despertador fantasiado de banda de fanfarra no quarto. Saí na rua e todos os carros buzinavam ao mesmo tempo e em um som mais alto do que o normal. O assunto das pessoas no metrô me deixava enjoado. Depois, a dor de cabeça passou, o sol surgiu e os sons voltaram ao volume habitual. Até começou a tocar um som bastante agradável do Ramones que eu não ouvia há uns três anos, mas cuja letra eu surpreendentemente lembrava de cor.
Não dá certo: Entrevista. De um lado, um estagiário de 19 anos e com exatos 1,70m. Do outro, Nenê Hilário, ala/pivô do Denver Nuggets e da seleção brasileira de basquete, de 2,11m. Nunca me senti tão desprovido de tamanho.
Logo ali: Depois do glorioso Fernando Vanucci soltar a clássica ‘A África do Sul é logo ali’, agora foi a vez de um dos maiores jogadores de basquete da atualidade, o ala Shawn Marion, revelar todo seu conhecimento geográfico ao cravar a Espanha no continente americano. “Which countries do you think that can clinch a berth on the Olympic Games by the America’s Cup?”, perguntei com todo meu sotaque de imigrande paquistanês. “I can’t tell you one team or two, man. I mean, there will be a lot of strong teams playing later this month and it’s quite hard to make a chose. I have us (ele quis dizer a seleção dos EUA), Brazil, Argentina, Porto Rico, Canada... and you can’t forget Spain”, respondeu. “Oh... yeah, for sure. Well, thank you, Shawn”, agradeci. Pelo menos era um cara bacana.
Um comentário:
A do Shawn Marion ainda foi pior que a do Vanucci. Mas pelo menos a pauta foi legal.
Nunca me senti tão desprovido de grana como quando estive no Athina Onassis. A vida é mesmo uma merda!
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