Há certas coisas que são impossíveis de serem explicadas utilizando palavras. Essa sensação aumenta, pelo menos para mim, nos meses finais do ano. Só consigo perceber que a temporada está chegando ao fim captando alguns sinais que ficam no ar.
Quando acordar, por exemplo, é fácil perceber que os raios de sol que penetram pela primeira fresta a ser aberta pela janela são mais horizontais e dourados do que o comum. É uma coisa legal de perceber, embora praticamente imperceptível.
O segundo fenômeno que melhor caracteriza os últimos meses do ano acontece depois das 18 horas. As noites são mais quentes, ligeiramente abafadas, e em rápidos momentos passa uma brisa agradável pela atmosfera. É o final do ano.
No entanto, o período só era ratificado, pelo menos para mim, ouvindo certas músicas. É verdade. Apenas quando ouvia Beatles e sentia qualquer um dos outros dois sinais de final de ano que eu de fato percebia que o fim estava próximo. Estranho, eu sei, mas são coisas meio inexplicáveis. Assim como ouvir o tema da vitória em uma manhã de domingo na Rede Globo me remete às melhores sensações de infância. Não faz muito sentido, mas é isso.
Só que toda essa salada sensitiva tinha hora para acontecer: nunca antes da segunda quinzena de setembro. Nunca antes. Mas as coisas têm sido diferentes nos últimos anos.
Nos meus cinco primeiros anos de vida, já tinha algo contra agosto. Era o primeiro mês depois das férias de julho, tinha 31 dias e não havia a parada de algum feriado estratégico. Era terrível. Isso sem falar que era o mês mais propício para sediar um acontecimento negativo.
Mas é bem verdade que muita coisa vem mudando de 12 anos para cá, e com agosto não foi diferente. Ontem de manhã, por exemplo, atravessei uma alamedazinha e tive a sensação de que o ano estava mesmo acabando. Achei estranho, já que estávamos em agosto – um mês antes do normal. Fiz o teste correndo: coloquei uma música dos Beatles e ela soou como soaria em setembro, outubro ou novembro.
Estava, assim, constatado: aquele ano, que começou não faz muito tempo, chegava na sua reta final. E mais cedo do que o normal. Muito estranho. Tentei entender por que essa diferença em relação ao tradicional e a única justificativa mais ou menos plausível foi o aquecimento global. Já que quase tudo de bizarro no mundo é culpa dele, dessa vez não deve ser diferente.
No fundo, até que achei legal que a tradição estava sendo quebrada. Pela primeira vez em 19 anos, o final do ano chegara ates. Além disso, agosto havia passado muito rapidamente, praticamente imperceptível como um mês de maio, por exemplo. E o melhor: nenhum acontecimento negativo.
Só que tem coisas que nunca mudam, e agosto sempre vai ser o mês do desgosto, como ouvi minhaavó dizer durante curtos 11 anos. Mesmo que aos 35 minutos do segundo tempo.
Sempre me ensinaram para não comemorar antes do tempo.
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