Já pensou em fazer compras no supermercado e não ter que encontrar aquela fila quilométrica mesmo que no caixa rápido?
E que tal dirigir tranqüilamente por qualquer travessa, alameda, rua, avenida ou via expressa de uma megalópole sem ficar preso em engarrafamentos monstruosos? Ou então fazer alguma tarefa importante, como ler um livro, sem ser importunado por intempéries que tiram a concentração de qualquer um... ?
Tudo isso parece impossível, ao menos nos primeiros anos do século 21. Pelo menos é, para as pessoas normais que vão se deitar logo após a Grande Família para acordarem minutos antes de Bom dia, São Paulo. Para alguns outros esquisitos, existe o período em que o mundo comum dorme profundamente, entre meia-noite e sete da manhã.
Madrugadas são legais. É justamente nesse período inóspito que as grades de programação de televisão e rádio atingem o topo não de audiência, óbvio, mas de qualidade. Ou pelo menos em alguns canais. Isso sem falar em todos os benefícios que impedem crises catatônicas que uma atividade corriqueira comum pode produzir.
Quando pequeno, tinha medo da madrugada. Por volta de 1993, quando eu me preparava para entrar na escolinha, meu pai dizia que a bruxa Reizel saía de sua casa à meia-noite a fim de assustar as pessoas que ficavam acordadas até muito tarde. Para uma criancinha que jamais dormia depois das 20h30, e sempre estava na cama minutos depois do Tintin, ficar acordado até depois da meia-noite era algo a ser desfrutado apenas para quem fosse realmente corajoso.
Mas tudo mudou depois da primeira vez em que ultrapassei a barreira da virada de data. Se bem me lembro, foi em um bingo beneficente em 1995 do hospital em que a minha mãe trabalhava. Embora tivesse a vontade fe voltar para casa antes das 0 hora, me senti uma das pessoas mais valentes da face da Terra por voltar para casa, ainda que de carro ao lado da mamãe, por volta da 1 da manhã. São e salvo.
Aos poucos, meu relógio interno foi se adaptando ao novo mundo. Claro que, estudando de manhã, não era sempre que podia apreciar a madrugada. Mas sempre dava para curtir um pouco, como quando saía com amigos e, para não ter que acordar os pais de ninguém para voltar para casa, simplesmente andávamos. Sem perigo algum, mesmo que às 4 da manhã. Pelo contrário: era muito mais seguro. Bastava usar a lógica: “Ladrão que é ladrão de verdade assalta até uma da manhã, no máximo duas. Aí sim que é perigoso. Depois, todo bandido vai dormir. Ninguém é trouxa de ficar na rua até esse horário”. Sempre funcionou.
Assim, quando fui incumbido de fazer as compras de casa depois da separação dos meus pais, sempre ficava de saco cheio com as filas enormes nos caixas. Com 16 anos, descobri que tudo era mais legal de madrugada. Os corredores eram mais vazios e as filas, inexistentes.
Ler ou assistir a um filme, então, é uma maravilha. Tudo calmo do lado de fora, quase nunca há barulhos. Até para estudar é um horário interessante. E se você porventura se encher dos estudos, tem ótimas opções com os meios de comunicação.
A Globo, por exemplo, atinge o ápice com o Programa do Jô – o melhor da emissora, a meu ver. Depois, o Intercine ou o Corujão às vezes mostram um filme interessante, se o telespectador levar sorte. Na seqüência passam alguns seriados que você nunca imaginou ver na vida (muito menos no canal 5), mas que no fundo são legais. E é na madrugada que começa o Telecurso 2000, uma das coisas didáticas mais bacanas que existe.
Mas é no Boomerang que os desenhos animados mais divertidos vão ao ar: Pica-Pau, Pantera Cor-de-rosa, Pernalonga & Patolino, Popeye, Garfield e Formiga Atômica. Para quem não agüenta mais ver os desenhos japoneses que viraram moda apesar da qualidade questionável, é sempre uma boa.
O bom e velho rádio AM também é uma opção legal. Quando o futebol não come a grade da Jovem Pan, o Thiago Gardinali vai ao ar no Rádio ao vivo. É um programa de variedades com uma porrada de serviços e dicas de entretenimento e lazer. Além disso, sempre há entrevistas com artistas ou especialistas de determinada área sobre algum assunto interessante. A CBN também tem um no mesmo estilo, mas gosto mais do da Pan.
O único ruim é que o programa acaba cedo, às 2 horas, e logo em seguida entra em cena o Jornal da Madrugada. Mas se engana quem pensa que vai ouvir notícias: nos primeiros minutos, a locutora anuncia a reprise do Esporte em discussão, com os comentaristas mais antiquados, quadrados e insuportáveis do rádio brasileiro (com exceção feita ao Carsughi, que às vezes faz algumas análises bem embasadas). E o quebra-pau esportivo fica uma hora aporrinhando até que, enfim, começa o noticiário.
Outra coisa legal pra caramba rola na sempre boa Eldorado. Terça às 2 horas, quinta às 3 e domingo às 5, entra em ação o Plug 700. Apresentado e comentado por Pierluigi Piazzi e Tarcisio de Carvalho, o programa dá várias dicas de informática a tapados virtuais como eu e você, que sempre xingamos a família da CPU quando o computador trava ou pensamos em acabar com todos os hackers do mundo quando o PC pega um vírus letal. Mas mesmo que você não se interesse por informática, o programa é legal também para quem quer apenas ouvir um bate-papo bem humorado.
Claro, há um preço a se pagar por tudo isso. Notívagos sempre perdem as manhãs, que são sempre alegres e infinitamente aproveitáveis, seja tomando o café da manhã com a família ou lendo o jornal.
E, embora as antemanhãs sejam fantásticas, existe um porém: assim como o domingo inteiro, a madrugada do pior dia da semana não foge do título e é a mais fraca de todos os dias da semana.
Um comentário:
Acabo de descobrir que temos mais uma coisa em comum: o gosto pelas madrugadas. Mas eu sempre preciso dormir em alguma parte dela senão fico muito cansada e não aproveito tudo.
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