Movimenta as mãos sobre o papel porque as palavras não se
cansam de chacoalhar dentro de sua cabeça. Escreve com letras tão mal
trabalhadas e apressadas porque já se cansou de esperar por algo que
realmente quisesse lhe dizer.
Tudo isso porque finge não a ver enquanto lhe mede todos os
passos. Dissimula uma ocupação quando ela o olha porque já perdeu tempo demais
de estudo preocupado se ela ainda não chegou ou se havia ido embora mais cedo.
Força o surgimento de um sorriso falso e indiferente porque
não consegue conter os lábios, que, mais que tudo, querem sorrir para ela. Conta
uma piada (ruim, geralmente) a algum colega para aliviar o nervosismo que a
presença dela lhe causa. Distribui abraços e banaliza carinhos porque anseia
passar os dedos por entre os cabelos lisos e negros dela.
Faz de conta que transborda segurança porque aquela presença
o desarma. Age despreocupadamente perto dela porque se preocupa exageradamente para
não estragar tudo o que ainda não têm.
É quando percebe que é um estranho para si mesmo. E, quando
tenta planejar o próximo passo, empaca. Se aquele não é ele perante ela, como
tomar alguma decisão sensata?
Sabe? Ele sente a falta dela. Mesmo sem nem saber o que é tê-la
para poder ter alguma lógica nessa saudade que sente.
Ele a quer. No idioma dele, na cidade dele. Na vida dele.
Tornou-se um sonhador. Um apaixonado. Um cafona.
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