A Dona Taé era uma velhinha legal. Ela é a vizinha de cima, que mora no 23. Deve ter vindo do Japão quando pequenininha, há uns 300 anos.
Desde que eu me dou por gente, ela morava sozinha. E minha mãe sempre reclamava que a velha não tinha nada para fazer e decidia, no meio da noite, empurrar os móveis de um lado para o outro da casa.
Mesmo assim, era uma velhinha que não dava muito trabalho para os vizinhos de baixo, pois não pulava, não corria pelo apartamento... e sempre pudemos ter uma vida social
E 12 anos se passaram assim, até que um dia um neto gay dela se mudou para o apartamento aqui de cima e passou a fazer companhia pra Dona Taé. Percebi isso um sábado, às 8h30 da manhã, quando o imbecil ligou o acústico da Cássia Eller no talo. E com Malandragem no repeat.
Ficou nisso até o meio-dia, 3h30 da mesma música; todo sábado era a mesma coisa. Foi o suficiente para eu ter um ódio mortal do novo vizinho. E jamais conseguir gostar de Cássia Eller, sobretudo de Malandragem.
Mais uns anos voaram e um dia eu já devia ter uns 16 quando a bisneta da Dona Taé também se mudou para cá. Era uma pentelha de uns quatro anos de idade que pulava, e corria, e gritava. Teve uma vez, eu estava fazendo lição de casa à tarde e ela, lá embaixo, tentava jogar uma bola vermelha no apartamento dela, no segundo andar. Bateu na minha janela umas três vezes, até eu aparecer com cara de bravo e a mãe mandar a filha parar.
Uns seis meses depois a pestinha foi para o Japão, e eu dei graças a Deus. O neto gay da Dona Taé também sumiu do mapa, ainda bem. Ambos voltaram uns dois anos depois, e a maldita pivete voltou ainda pior.
Teve um domingo, já era umas 21h30, ela começou a pular com os calcanhares no chão. Peguei uma vassoura aqui em casa e comecei a cutucar o cabo no teto, para ver se alguém se tocava e mandava a fedelha parar. Nada: ela ficou ainda pior. Só de raiva, contei os minutos até dar 22h10, a menina não parou. Liguei na guarita do prédio e disse “oi, eu sou o morador aqui do bloco 10 e... eu estou ouvindo gritos, e barulhos fortes no apartamento 23. Acho que está tendo uma briga forte, você pode ver o que é?”. Cinco minutos depois, o barulho tinha acabado. Para sempre.
Humm... para sempre também não. Hoje, meu dia de folga, fui dormir às 6 da manhã e estava decidido a hibernar até umas 14 horas. Besteira: às 8h30, acordei com porretadas, marteladas... quase um armagedon. A Dona Taé resolveu mudar o piso do quarto acima do meu. Tentei me enfiar embaixo do travesseiro, dos cobertores, até pensei em ir pra debaixo da cama. Vassouradas não adiantaram, e nem meus gritos pela janela de “caralho, porra, pára com essa merda, enfia esse piso novo no olho do...” e daí pra cima.
Nunca falei tantos palavrões após acordar. Fiquei uns 20 minutos reclamando, dando vassouradas no teto, xingando o navio que trouxe a droga daquela velha maldita pro Brasil há 980 anos só pra acabar com o meu tão sonhado dia de folga.
Droga.
4 comentários:
Já disse pra você parar com essa vida desregrada... se tivesse ido dormir à meia-noite, 8h30 já estaria bom demais pra acordar.
E ah! Eu também nunca consegui gostar de Cássia Eller, nem de Malandragem.
Pô, Cássia Eller era boa demais. E "Malandragem" também, hehehe.
Tá de folga nessa terça-feira gelada e chuvosa e ainda reclama, é? Bah!
você é muito bonitinho!!
Ué, mas não é você que odeia folgas e pede paratrabalhar nelas?
:-P
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