Sexta-feira, noite. A semana estafante tinha acabado parcialmente (os plantões no sábado e do domingo não me permitirão desfrutar de uma folga completa), e... bom, sempre gosto de fazer alguma coisa na noite de sexta (mais do que no sábado, aliás).
Juntando isso ao fato de que eu não comia nada desde o almoço de quinta-feira, fui jantar em um rodízio de comida japonesa, perto de casa. Todas as perspectivas de uma boa chepa, não fosse o fato de eu parar o carro na frente do restaurante e ouvir do manobrista que o local fecharia em 10 minutos. “Ok, aquele casal acabou de entrar... não vão fechar a porta do lugar tão cedo”, pensei. E entrei.
Já conhecia aquele restaurante japonês, vez ou outra vou almoçar lá com minha mãe e meu irmão. Como de costume, pedi um suco de laranja e um temaki (vulgo sushi gigante) de atum e os pratos quentes vieram. Eu, mostrando todas as minhas habilidades com o hashi (os pauzinhos), peguei uma guioza (um bolinho de carne) e comecei a encher o pandu.
O garçom, que de japonês não tinha nem o branco dos olhos, logo viu e se prontificou a tirar a tábua das guiozas. Sei lá o que aconteceu, ele virou a bandeja e derramou todo, mas todo o shoyu em cima da minha mochila. Olhei, fiz que não vi esperando ele se prontificar a limpar, ou pedir desculpas, ou sei lá. O cara simplesmente ficou me olhando, esperando que eu explodisse. Continuei na minha, mas puto.
O cara voltou à minha mesa pouco tempo depois, trazendo um potinho de shimeji (cogumelos). Olhou para minha mochila, olhou para mim, virou as costas e voltou para a cozinha. Vez ou outra passava na minha mesa, olhava de mim para a minha mochila e da mochila para mim e esperava ser xingado. Continuei fingindo uma calma enorme, embora... minha mochila estivesse coberta de shoyu.
Uma hora, eu quase explodindo de raiva, ele passou perto e eu pedi um pano úmido. Ele me trouxe um perfex seco, mas foi o suficiente para eu fazer uma ceninha de levantar, passar o pano sobre a mochila, olhar feio para ele... e esperar, pelo menos, um pedido de desculpas. Poxa, eu não ia maldizer as próximas 30 gerações do cara, mas um “foi mal” não seria ruim, né?
Ele não falou um A sequer, só continuava olhando da mochila para mim e de mim para a mochila. Pensei em vários tipos de protestos: chamar o gerente e reclamar, pedir um pano úmido para outro garçom e dizer “é que seu colega fodeu a minha mochila e nem pediu desculpas”, não pagar os 10%, dar alguma indireta no tal do garçom-cagão... e até reclamar com o sindicato dos clientes de rodízios japoneses. Mas meu temaki não tinha chegado, e eu preferi não correr riscos de receber um sushi gigante cuspido.
O jantar correu bem, e consegui compensar as muitas horas sem alimentos. Após pagar a conta (com os 10%, achei melhor não dar showzinho e bancar o babaca), levantei da cadeira, peguei a mochila e reclamei “Hunf, shoyu. Caralho”. Ironicamente, no mesmo momento o cara passava na minha frente para abrir a porta para mim. Abriu, eu saí sem falar “boa noite”, “obrigado” ou “vai se foder”. Foi meu protesto pacífico.
O problema é que eu tenho duas mochilas. A minha preferida, uma da Risca que eu tenho desde o primeiro ano da faculdade, está rasgada. A minha reserva, uma grandona da Wilson... está coberta de shoyu.
Não vivo sem uma mochila nas costas, me sinto extremamente vulnerável e despreparado quando saio na rua sem uma mochila. Mas... humpf.
4 comentários:
Alguns homens têm essas coisas com mochilas, curioso.
E eu não gosto de comida japonesa, mas se fosse comigo, eu não pagaria os 10%, mesmo. Sou cara de pau =S (pra algumas coisas, claro)
tenho essa paranóia da mochila também e só tenho uma. logo, se alguém derrubar alguma coisa sobre ela, não poderei ter sua atitude zen; ao menos um pano úmido eu vou exigir.
e eu ainda não comi comida japonesa por aqui. acho que vou deixar pra lá, rs.
1) Também sou meio chegado a uma mochila nas costas, sei lá por quê.
2) Não sou lá muito fã de comida japonesa. Mas deu uma vontade de comer uma guioza agora...
foi muita falta de delicadeza da parte dele, mesmo.fazer o que...
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