(Para uma amiga que faz aniversário)
Sábado de feriado, cidade morta. Por meio de alguns e-mails, consegui marcar de sair com uma grandessíssima amiga, com quem não me encontrava havia mais de ano, de sairmos para tomarmos um café no começo da tarde, na Paulista. E acertamos: 15h30, no escadão.
Deixei a redação lá pelas 14h35, fui almoçar e o telefone tocou. Um número que eu não conhecia, devia ser ela.
– Onde você tá? – perguntou. Era ela.
– Almoçando, e você?
– Também, na galeria 2001.
– Tá, quando sair daqui vou pro escadão. E te espero lá.
Engoli a comida rapidamente. “Galeria 2001 deve ser aquela da locadora 2001, aqui no quarteirão ao lado. Daqui a pouco ela chega lá”, pensei, já me apressando.
Cheguei ao escadão um pouco antes das 15 horas. Sentei na única sombra e esperei, ansioso, olhando para dois lados da calçada. Vários casais, várias garotas sozinhas ou acompanhadas... e nada de ela chegar.
Esperei cinco, dez, 15, 20, 25, 30 minutos. Deu 15h30 e nada de ela aparecer. Continuei lá, sentado. Às 15h40, no entanto, meu telefone tocou mais uma vez. Um número já conhecido, era ela.
– Oi, tô saindo aqui do Conjunto Nacional. Daqui a pouco eu chego!
– Peraí, você não tava do lado da 2001?
– Não, tava aqui no número 2001 da Paulista. Mas tô chegando.
– Hahaha, tudo bem. Só que não precisa ter pressa, tá?
– Não?
– Nah, tá mó delícia ficar aqui fritando no sol, sabe?
– Foi uma ironia isso?
– Hahaha, mais ou menos.
Ela chegou um pouquinho antes das 16 horas e não pôde deixar de tirar uma comigo: “nossa, como você tá corado!”, brincou. Poderia ter respondido mil e uma coisas, mas era tão bom rever aquela amiga que não rebati à altura. “Nossa, você continua baixinha”.
Passamos horas – que na verdade pareceram rapidíssimos minutos – conversando. Na verdade, monologando. Tinha um ano e meio de novidades para contar e ela, como sempre, estava pronta para me ouvir. E se orgulhar de cada entrevista que eu falava que tinha conseguido, se surpreender com cada detalhe de algum outro assunto que eu relatava.
Naquela tarde também ouvi uma das coisas mais legais dos últimos meses. Depois de contar a novela e tanto que vivi há algum tempo, e ela ficou me olhando alguns instantes com a boca entreaberta e disse: “prazer, eu”.
Perguntei como assim e a resposta dela foi de bate-pronto: “nossa, você tá completamente diferente. Tá muito mais seguro de si, decidido. E parece estar tão bem mesmo depois de tudo isso que você me contou!”. Perguntei, já prevendo a próxima fala, se antes eu era apenas um moleque chato e inseguro que reclamava da vida. Ela sorriu: “uh, e como!”.
Deixei-a em casa e voltei para a minha cantarolando alguma música no trânsito, feliz da vida. Tinha sido uma tarde e um início de noite e tanto. E valeu a pena esperar aquela hora a mais no escadão. Muito.
Tudo isso só me faz pensar em uma coisa: talvez seja por isso mesmo que as mulheres se atrasam tanto. Para que nós, homens impacientes, possamos valorizar ainda mais cada momento ao lado delas.
Humpf, como se precisasse.
Um comentário:
Vc gosta mesmo da palavra "insone". E você realmente escreve muito.
Eu costumava ter esse problema, mas aaacho que eu finalmente estou me adaptando às tristes limitações da vida jornalística. Ou não, nem sei mais se eu quero ser jornalista.
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