Sabe todas as vezes em que eu te digo, meio desiludido e com
as palavras carregadas de mágoa, que não nos veremos mais? Preciso te confessar
algo: eu minto.
Nunca estive tão certo de algo tão incerto. Sei que vamos nos reencontrar de novo, querida. Não sei se no próximo verão, se no próximo ano, se na próxima década, se em nove ou em noventa anos. Não sei se aqui ou se aí, se no primeiro lugar em que eu te vi ou em um trem a caminho de sabe-se lá onde. Não tenho a menor ideia.
Nunca estive tão certo de algo tão incerto. Sei que vamos nos reencontrar de novo, querida. Não sei se no próximo verão, se no próximo ano, se na próxima década, se em nove ou em noventa anos. Não sei se aqui ou se aí, se no primeiro lugar em que eu te vi ou em um trem a caminho de sabe-se lá onde. Não tenho a menor ideia.
Eu só sei. Sempre soube. E se te digo o contrário é para te
provocar. Para te instigar a me fazer uma surpresa que apagaria (apagaria?) as últimas
surpresas que tive com você.
Se te digo que você nunca mais saberá uma letra a meu
respeito é porque me dou a oportunidade de que você, a vida, o destino, a
improbabilidade, o acaso ou qualquer outra entidade que esteja no comando do
nosso barco me surpreenda. Me olho no espelho e repito que você é uma página
virada, rasgada, amassada e atirada pela janela apenas para poder sorrir
incrédulo e estupefato ao te ver de novo.
É impossível que seja impossível que nos vejamos mais uma vez. Apenas admito a impossibilidade de que nos tenhamos afastado
com um simples e mentiroso “até logo” que quis dizer "até nunca mais". Desde aquele momento eu sabia que te
veria de novo. Como você sempre foi; maquiada ou com a cara lavada; com o rosto
mudado; mais velha, mais gorda, mais casada, mais ou menos divorciada, meio que
com filhos, menos ou mais solteira, mais enrugada, mais jovem; mais linda. Mais
linda. Como sempre ou como outra pessoa.
Não, não pode ter sido somente isso. Não seria certo, não
seria justo.
Sim, nós nos veremos mais uma vez. Nos olharemos, nos
sentiremos fracos e inseguros. Nossos corações palpitarão como uma britadeira
contra o nosso externo – e não duvido que quebrem nossas costelas. Sorriremos. Lembraremos,
fantasiaremos. Espero que nos falemos. Espero que passemos uma tarde inteira
juntos conversando sobre o nada que teremos feito até lá.
E se algum dia eu ficar velho e gagá e, entre minhas fantasias,
eu me lembrar de que ainda não te vi, vou sorrir. Vou respirar aliviado por
saber que o pior já terá passado e que dali a alguns instantes nos
reencontraremos.
Sim, querida.
Minha certeza em te ver de novo é tão grande que me fez acreditar em uma outra vida depois desta vida.
Minha certeza em te ver de novo é tão grande que me fez acreditar em uma outra vida depois desta vida.
Tudo isso porque estou mais do que certo de apenas uma
coisa: a chance de nos vermos de novo, por um micromilissegundo que seja, é o que mais
se aproxima neste mundo (e em todos os outros) ao zero absoluto.
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