Estava no trânsito da Avenida Domingos de Moraes na hora do rush na semana passada quando, parado em um congestionamento, olhei para o lado e vi um cidadão na rua com um cartaz escrito qualquer coisa. Virei, então, o pescoço um pouco mais para a direita e me deparei com dois mais jovens segurando uma outra faixa, apontando para dentro da Igreja da Santa Cruz.
Apertei um pouco mais os olhos para conseguir ler no breu da avenida não lá tão bem iluminada e me surpreendi quando decifrei as letras em vermelho no fundo branco: “drive-tru de orações”, mostrava o cartaz, com uma seta apontando para um corredor no território da igreja.
Drive-tru de orações. É algo no mínimo... bizarro, que jamais ouvi alguém falar sobre as mudanças que o futuro proporcionaria. Nem nos Jetsons. Talvez, quem sabe, um confessionário via Skype, em que o fiel liga para o padre, aciona sua webcam, ajoelha-se e relata todos os seus pecados e depois reza não sei quantas orações previamente decoradas enquanto espera a absolvição divina. Mas nada como um
Infelizmente, achando estar atrasado para o meu compromisso (alguns quarteirões para a frente lembrei que havia combinado não às 20h30, como eu tinha certeza, mas às 21 horas), não pude jogar meu carro na frente de outros veículos parados para entrar e testar o curioso drive-tru. Mas fiquei curioso para saber o que era.
Será que o fiel embica seu veículo ali, relata previamente seus pecados diante de um jovem padre, pega uma notinha e volta para casa ciente do que precisa fazer para conseguir o perdão? Ou será que reza ali mesmo o terço, enquanto o outro veículo da fila aguarda pacientemente a sua vez? E... não poderia, então, haver um espaço reservado para a pessoa estacionar o carro e orar ali mesmo por vários minutos?
Há também a possibilidade de o fiel, que não pôde comparecer à missa dominical, rezar ali mesmo e comungar, não? Quem sabe até que todos os motoristas ali aguardando não deixam seus carros (com a chave no contato, mesmo - afinal, quem roubaria dentro de uma igreja?), dão as mãos e discursam ali um Pai Nosso?
Esse negócio de orações drive-tru, apesar da bizarrice aparente, faz lá seu sentido. Eu, quando bem mais novinho e tinha um temor divino maior infinitamente maior que a memória de um iPhone, precisava aguardar todos os primeiros domingos do mês para a confissão comunitária na igreja aqui perto de casa. Nada de relatar os pecados, eu precisava apenas mentalizar meus erros e ser perdoado sem dizer um A. E depois comungava com a consciência tranqüila.
Em um mundo moderno e imediatista, porém... agora, parece que basta embicar seu carro ali na Igreja da Santa Cruz em um dia qualquer (ou quem sabe numa quinta-feira de trânsito antes da rodada do Campeonato Brasileiro) e fazer a sua oração. E melhor: não é preciso nem pagar a taxa de entrega.
Querendo ou não, é mais saudável que um drive-tru do McDonald’s, né?
Nenhum comentário:
Postar um comentário