Eu estava extremamente nervoso. Era uma manhã de quinta-feira, bem ensolarada. Mãos suavam, eu parecia mais principiante do que já sou. Estava prestes a fazer a minha primeira entrevista para o estafante TCC ao qual me propus solitariamente: recontar a vida da Maria Esther Bueno.
O meu entrevistado seria um jornalista especialista em tênis, que cobriu bastante o esporte durante a época áurea da Maria Esther. Bem gentil, me convidou para uma conversa pela manhã em seu apartamento, no Itaim. Tomei um café na padaria da esquina enquanto rabiscava, nas costas das minhas pesquisas, umas perguntas que faria a ele.
Às 10h55, paguei a conta, atravessei a rua e segui para o prédio. Tirei os óculos escuros antes de me identificar ao porteiro e subi. O jornalista – um senhor de muito boa aparência, olhos claros, cabelos brancos e uma cicatriz no lábio superior – me recepcionou muito bem, uma casa extremamente bem cuidada e gostosa de morar. Não sei se ele notou minha insegurança, mas me deixou bem à vontade.
Começamos a papear sobre Maria Esther Bueno. Ao fim de duas horas, acabei não o entrevistando. Conversamos bastante, e tive uma sutil impressão de que conhecia aquela voz. Ele ficou impressionado com a minha “vasta” pesquisa para o TCC, as 15 páginas com histórias que eu havia apurado em duas semanas de buscas. E, também, ficou maravilhado com uma edição de colecionador de uma revista que eu havia descolado nessas apurações.
“Infelizmente eu não vou poder ajudar em nada, Felipe. Você, definitivamente, sabe muito mais sobre a Maria Esther do que eu. Estou aprendendo demais contigo”, ele dizia. Depois de algumas dezenas de minutos de conversa, notei o quanto aqueles elogios. O Rui Viotti, dentre outras coisas, foi o narrador das finais do Guga em Roland Garros.
“Quero muito que você me convide para a sua banca de TCC, faço questão de ir para aprender mais com você”, disse o Seu Rui quando nos despedimos. Foi um incentivo e tanto para não desistir, muito embora a personagem principal do meu trabalho não tenha colaborado em nada.
Hoje, desligando o computador, vi no twitter do Sílvio Luiz que o Rui Viotti faleceu nesta segunda-feira, aos 79 anos, após passar dias internado. Teve uma infecção generalizada, não resistiu. Obviamente, fiquei chocado e estarrecido com a notícia inesperada.
Entretanto, vou dormir sem peso na consciência ou arrependimento por um motivo: vendo como ele ficou interessadíssimo com aquela revista de colecionador, tirei uma cópia de todas as páginas e enviei para ele, como um mero presente pela hospitalidade.
Nem sei se recebeu, na verdade. Prefiro pensar que sim, e que gostou. E que tenha, de fato, podido aprender um pouquinho com um moleque nervoso certo tempo atrás.
3 comentários:
Filho...Lindíssimo seu depoimento sobre o Jornalista Rui Viotti...A vida é assim...as pessoas saem de nossas vidas inesperadamente...tenha a certeza de que ele recebeu a cópia da revista e deve ter ficado muito satisfeito...Amo vc e o orgulho que tenho de vc é igual a esse amor...bj(mãe é assim mesmo).Vc é ouro em minha vida.
Vi muita gente homenagear o Rui Viotti, dizendo aquilo de "foi um grande narrador", "foi um grande incentivador do tênis"... Mas é muito mais bacana quando a gente realmente tem algo particular para se lembrar.
Parabéns, Heldinha! Tenho certeza de que o TCC vai ficar show de bola! Se tudo der certo, estarei na banca!
Que belo texto, cara. E que legal você ter falado com o Rui Viotti!
Não esqueça de avisar sobre o dia da banca, viu? Quero estar lá. E com boteco depois, é claro! ;)
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