segunda-feira, 14 de abril de 2008

Sobre começos e fins

Um dia bem ensolarado no interior de São Paulo. Eu, fritando os miolos e bronzeando meu laptop nas arquibancadas do Tênis Clube de Sorocaba, assistia à primeira partida do confronto entre Brasil e Colômbia, pela última rodada do Zonal Americano da Copa Davis, entre o representante nacional Thomaz Bellucci e o visitante esquentadinho porém simpático Santiago Giraldo.

Um pouco estafado após acompanhar dois longos sets do jogo, comecei a prestar um pouco de atenção no que se passava ao meu redor. Notei que o velhinho ao meu lado, que se apresentava como tio de um dos jovens mais promissores do tênis brasileiro cujo nome não vem ao caso, havia acabado de acender um cigarro.

O cigarro de filtro bege que ele consumia pouco parecia diminuir de tamanho no começo, apesar das várias tragadas e batidas de cinza do meu colega de comentários críticos aos erros do Bellucci ou de elogios depois de algum lampejo de gênio. Parecia não ter fim.

Então voltei meus olhos para a quadra, onde os dois tenistas haviam começado a disputar um ponto. Quando me virei para fazer mais um comentário de jogo ao velhinho, notei que o cigarro já se encaminhava para o seu fim, quase se aproximando da bituca. Cada puxada de fumaça fazia com que a chama consumisse uma boa parte do que restava antes do filtro.

Não demorou muito para que o velhinho desse mais uma tragada - a final -, olhasse que não havia mais o que fumar e apagasse a sua droga nicotiana. Enquanto ele ainda se recuperava da alta concentração de alcatrão e mais não sei quantas mil substâncias tóxicas avisadas pelo Ministério da Saúde, acabei viajando um pouco.

Proporções, relevâncias e besteiras à parte, veio à minha cabeça um paralelo do cigarro e um acontecimento qualquer que acontece em nossas vidas. O começo sempre parece ser muito, muito longo e é difícil imaginar que em algum momento terá um encerramento. De uma hora pra outra, no entanto, o temido fim dá as caras. E rapidamente o ato se esvai, deixando nada além de... de lembranças? Talvez seja.

“Porcaria de cigarro! Hoje em dia fazem as coisas para não durarem muito, mesmo. A gente fuma um pouquinho e, quando vê, já acabou”, reclamou o velhinho.

Não é só o cigarro. Tudo (ou pelo menos quase) é assim. E a gente, preocupado em fazer com que o começo seja o mais longo possível e nem pense no assombroso término, acaba não vivendo o ‘meio’. Raramente temos consciência de que o começo já não é mais tão começo assim e o fim não está tão longe como achávamos.

Ele acendeu mais um cigarro. Metaforicamente ou não, a gente sempre acende mais um. E vive todo esse drama de começos e fins – sem meio – mais uma vez. É a lógica da vida.

2 comentários:

Lui disse...

Meu guru Guimarães Rosa escreveu: "O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia".

Sem mais.

Allan Brito disse...

Caralho, Relda...

Esse sol na cabeça tava forte mesmo hein?

ahahahahaha...

Sacanagens à parte, a viagem é válida sim!!! Sorte q a vida é menos prejudicial q o cigarro... ÀS VEZES!