“Oi, eu sou estudante de jornalismo e estou fazendo uma reportagem sobre a rodoviária. Queria te entrevistar, pode ser?”.
Acostumado a me apresentar como o ‘Felipe da Gazeta’ por aí, ainda vejo que a minha abordagem para entrevistas fora do campo esportivo não está lá muito boa. Tanto que uma das respostas que eu recebi para essa pergunta foi uma outra pergunta.
“Peraí. Você quer me entrevistar pra saber se eu vou fazer faculdade?”, perguntou a funcionária da rodoviária. Não pude deixar de sorrir e explicar direitinho o que acontecia. “Não, não. Eu faço faculdade. É, de jornalismo. E eu tenho que fazer uma reportagem sobre a rodoviária e achei que te entrevistar seria válido”.
Todo estudante de jornalismo sabe que ninguém em sã consciência trata bem estudantes de jornalismo (uma classe de joões-ninguém que sonham em ser alguma coisa não muito lá relevante em um futuro próximo). Mas não aquela funcionária da rodoviária.
“Nossa, que legal! Eu nunca fui entrevistada, pode me entrevistar sim. E... poxa, eu nunca conheci ninguém que fizesse faculdade de jornalismo. Sabe, eu queria fazer jornalismo. Tenho um caderninho onde escrevo poemas, uns desabafos meus....”.
‘Peraí’, pensei comigo mesmo. ‘Ela quer fazer faculdade de jornalismo, escreve... poxa, parece ter um potencial pra coisa. Mas... calmaí’, me interrompi. “Desculpa a pergunta chata, mas... quantos anos você tem?”, perguntei. “Ah, 17”. Surpresa: tratava-se de uma menina novinha já trabalhando. Bom, tudo bem.
Entre uma pausa e outra para que ela fizesse o trabalho dela, passei três horas daquele dia conversando com a menina que um dia queria fazer jornalismo. Descobri que ela tinha uma vida maluca, dormia quatro horas por dia, trabalhava, estudava, fazia cursinho... dava preguiça até de pensar.
Achei bonitinho quando uma hora a menina pegou um guardanapo e escreveu para mim o e-mail dela. “Você é legal”, sintetizou. “Poxa, obrigado, você também, eh... Aliás, qual o seu nome?”. Eu fui descobrir o nome dela apenas depois de 1h30 de conversa. Não era a nossa prioridade saber detalhes um da vida do outro. Nosso papo non-sense estava muito mais bacana.
Qual era a minha prioridade com ela? Não é difícil responder: precisava muito conversar com alguém, preencher minha cabeça naquele dia ocioso de folga. E a menininha funcionária da rodoviária foi a minha melhor amiga em um momento conturbado criado por mim mesmo, alguém com quem eu precisava conversar.
Voltando juntos para casa, não pude deixar de ser um pouquinho sincero com ela: “Acabei nem te entrevistando, mas valeu muito mais a pena só conversar com você. Tava precisando dar umas risadas, mesmo. Obrigado, menina”, agradeci.
É clichê dizer que as portas do metrô se fecharam e eu achei que a gente nunca mais se veria? Pelo sim e pelo não, assumo que tive essa sensação. Claro que a adicionei no MSN, mas sei que vamos conectar e não teremos assunto.
Já faz algumas semanas que a adicionei e a gente nem se encontrou online, pra falar a verdade. Mas pelo menos teremos a lembrança de que fomos bons amigos durante aquelas horas.
2 comentários:
Hummmmmm... Senti um clima, hein? ;)
Sobre o Imperador: ele já me convenceu há tempos. Cada vez mais prova que é um jogador de partidas e momentos decisivos. Aliás, um dos únicos que temos no fraco elenco atual...
Não sei o que será do São Paulo depois que ele for embora, após a Libertadores. Hoje, é fundamental!
Como diz o Lula: "Sou uma metamorfose ambulante", ué! :)
Ah, eu queria ter essa capacidade de fazer tantas amizades instantâneas.
Por certo que deixa o cotidiano mais interessante. :]
Beijos, Fê
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