Investe-se uma grana tremenda desenvolvendo-se novas tecnologias para que a televisão se torne moderna. Interferência, chuvisco, falta de sintonia e bombril na antena são coisas que eu convivia na infância, há 15 anos, e nunca mais ouvi. Aí veio o SAP acompanhado do PAL-M e do NTSC. Depois, o cabo. Tela plana. Trocentas polegadas. O sinal digital. Som stereo, mono, surround. Plasma. HD. Led, 3D e por aí vai.
Uma novidade melhor que a outra, dando a impressão de que o Faustão está de fato na nossa sala, que o Julio Baptista não chutou aquela bola nas arquibancadas mas em nós vuvuzeleiros na câmera + da Globo. A sensação de que as garras do Wolverine estão saindo da tela e aparando nossas barbas. Tudo, tudo. Só esqueceram de uma coisa, bem simples: o tempo que o sinal leva para chegar às nossas telas.
E é esse maldito delay (vulgo "atraso de merda") que vem arruinando com um momento que eu ansiei cada vez mais nos últimos anos: a Copa do Mundo. E o torneio sul-africano tem se tornado cada dia mais decepcionante, ao menos para mim (o nível técnico do futebol não está no mérito), já que me incomodo demais com isso e valorizo mais a surpresa. Mas é impossível a surpresa com tanta tecnologia ao meu redor.
Os televisores com os quais convivo têm cabo com sinal digital, têm tela plana e muitas, muitas polegadas. Toda essa parafernalha apenas intensifica a decepção. Basta um jogador armar o chute na minha tela que já tem gente gritando gol. E agora me diga: qual a graça, cara-pálida?
Vivi isso (mais intensamente) com Brasil x Costa do Marfim. O Luís Fabiano ajeitou a bola na mão pela primeira vez, os vizinhos do prédio já pulavam e se abraçavam gritando gol. Resumindo: o gol mais bonito das últimas Copas foi uma frustração sem tamanho. Chapéu aqui, lençol acolá... e já sabia o final: caixa. Broxante.
O que mais me deixa inconformado é ver o pessoal no boteco de quinta e esquina do outro lado da rua, com bombril na antena, mostrar o gol antes do mundo inteiro. Obrigado, tecnologia, Net, satélites e delay, por estragarem a minha Copa. E por perceberem que como se joga dinheiro no lixo.
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