quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Carteirada

“Você é só um estagiário com cara de moleque”, me animou a Bonie quando eu reclamei com ela o fato de ter minhas entrevistas com Falcão e Bebeto interrompidas sem mais por assessores de imprensa na terça à tarde. Mas a história que veio depois dessa mensagem vale a pena ser contada (até pra tirar poeira deste blog).

O evento com Falcão e Bebeto era o Mundial de freestyle (embaixadinhas acrobáticas) patrocinado pela Red Bull. Um dos jurados seria o meio-campista Edgar Davids. Davids é holandês. Eu arranho um holandês. E isso me rendeu o credenciamento pra cobrir o evento e tentar bater um papo com o negão.

Fiquei enchendo o saco dos assessores da Red Bull para conseguir dez minutinhos para entrevistar o Davids. Não rendeu. O cara mesmo aceitou quando eu quase implorei pra ele dizendo “Meneer Davids, ik ben Felipe Held, een Braziliaanse journalist. Ik wil u interviewen? Het zal niet tijd, op slechts tien minuten! Is het mogelijk? (resumindo, quer dizer: Senhor Davis, eu sou o Felipe Herói, um fodido de um jornalista brasileiro que queria muito te entrevistar. Prometo que não vou te encher o saco por muito tempo, só por uns dez minutinhos)”.

Eu ensaiei essas quatro frases umas mil vezes com um pensamento ingênuo: se eu fosse para a Holanda e alguém me pedisse uma entrevista em português, eu seria o maior solícito com a tal pessoa. A recíproca não foi verdadeira, e mesmo o Bebeto me dando a maior força (disse “vai lá, o cara é mó gente boa, tenho certeza de que vai falar com você sim”), a tia-assessora do Davids não liberou uma exclusiva. É a vida...

Mas acabou que eu consegui me espremer entre uma dupla de jornalistas holandeses e oito mil brasileiros e ficar do lado do Davids na hora da coletiva em cima de um palco pequeníssimo. Aos trancos e barrancos, fiz três perguntas seguidas para o cara e tal. Depois, uma hora, consegui lançar uma outra pergunta. Aí a assessora apareceu e tentou levá-lo para longe dos urubus da imprensa mundial.

Aí vem a parte legal: ao meu lado, um jornalista reclamava com a assessora gringa por não ter feito uma pergunta para o Davids. Ela dizia que não podia fazer nada, a entrevista já tinha terminado. “But I am from Rede Globo”, ele argumentava. A mulher repetia sorrys e mais sorrys, e o cara ao meu lado continuava lá. But I have to talk to him, we are the number 1 in Brazil”.

Meio cínica, a gringa agradeceu o cara pela vontade da “emissora número 1 do Brasil” em falar com o Davids. Falou até em português e começou a levar o atleta para o vestiário. O cara da Globo, então, se virou para um assessor brasileiro com a maior cara de tacho e disse que não conseguiu fazer uma pergunta para o Davids.

Então o assessor brasileiro virou para a assessora gringa. Sotaque carioca: “Thish guy ish from the mosht impóhrtant televyjon in Brazil, he musht talk to Davidsh”. Eu quase interrmopi e falei para o cara “E eu sou da emissora menos assistida de São Paulo e mesmo assim fiz cinco perguntas pro Davids”, mas fiquei quietinho.

A gringa, então, se virou para o repórter e o chamou para conversar com o Davids. Eu, claro, fiz a egípcia, em fingi de Rede Globo e fui junto. O cara não falou nada de mais. Mas eu voltei para casa felizinho por ter conseguido fazer meu trabalho sem precisar dar carteiradas nos outros. :)

2 comentários:

Bonie disse...

Mas que honra, eu tô na primeira linha!!! =D

Mas, Felipe... ainda bem que vc resolveu mesmo fazer jornalismo, e não engenharia. Pq se vc emendou três perguntas e depois fez mais uma, você fez ao todo quatro perguntas, e não cinco. Mas deixa pra lá.

Aline disse...

A emissora número 1 do Brasil foi ótima. hahaha